sexta-feira, 28 de agosto de 2009

AVALIAÇÃO DE PROFESSORES – Carta aberta à Dra. Manuela Ferreira Leite (PARTE III)

Este sistema poderia basear-se nas seguintes premissas, que terão obviamente de ser desenvolvidas de modo a poderem ser operacionalizadas:
1. A avaliação de um professor deve ser constituída por uma componente interna da escola e por uma componente externa, contando, cada uma delas, 50% da classificação final;
2. A componente interna será, pura e simplesmente, da responsabilidade do Director da escola, seu superior hierárquico, o qual poderá avaliar o desempenho do professor na sua relação com as tarefas escolares, com os alunos e encarregados de educação, o seu contributo para o bom funcionamento da escola, a participação em equipas de trabalho, a sua capacidade de inovação, o seu dinamismo, a sua auto formação e formação contínua, etc. etc.
3. A componente externa será da responsabilidade de equipas pertencentes à Inspecção Educativa, que, para isso, terá de proceder à adequada formação pedagógica e científica dos seus elementos, nas várias áreas do nosso currículo, chamando-lhes avaliadores, em vez de inspectores, a fim de lhes retirar uma certa carga pejorativa;
4. Esta componente externa teria de incluir obrigatoriamente várias observações de aulas ao longo do ano lectivo em que se processa a avaliação do professor – nunca menos de 10 aulas. Essas observações em sala de aula seriam feitas sem marcação e conhecimento prévio do avaliado, precavendo, deste modo, alguma inevitável influência nas preparações dos planos de aula e tornando o desempenho do professor o mais aproximado possível do real;
5. A avaliação externa deverá ocorrer de três em três anos;
6. Após cada aula observada os Avaliadores deverão fazer uma reunião discussão da aula com o professor avaliado, a fim de poderem ser corrigidas situações menos positivas e apontadas as situações mais positivas;
7. Por último, como processo de selecção e para salvaguardar que os professores que chegam ao topo da carreira remuneratória são realmente os melhores, estes, para acederem aos escalões superiores da carreira, deveriam ser sujeitos a dois tipos de provas:
a. exames de índole científica, na área do seu grupo disciplinar, organizados pelos estabelecimentos de ensino superior;
b. trabalhos de carácter didáctico e pedagógico a serem submetidos à apreciação de júris de especialistas.


(cont.)

domingo, 2 de agosto de 2009

AVALIAÇÃO DE PROFESSORES – Carta aberta à Dra. Manuela Ferreira Leite (PARTE II)

Considero até ser uma das maiores mistificações criadas nos últimos anos pelos políticos “carreiristas”, jornalistas “seguidistas” e revanchistas e opinião pública em geral, os quais são intoxicados e desinformados, como se sabe, pelos dois primeiros. O problema está noutra vertente. Sendo os professores uma classe profissional muito qualificada, tanto do ponto de vista científico como pedagógico, não podem deixar de ser peritos em avaliação, uma das componentes mais importantes da relação pedagógica com os alunos. Logo, não podem tolerar que sejam criados sistemas de avaliação do seu trabalho que sejam tecnicamente deficientes e desajustados às especificidades da sua actividade.

Assim, e para que esta dinâmica entre Ministério da Educação e professores mude de rumo, torna-se necessário propor um sistema de avaliação de desempenho que não padeça das doenças dos anteriores sistemas, ou seja, não pode ser feito sem o apoio dos próprios professores, não pode ser baseado em avaliações pelos pares, ou seja, pelos próprios colegas (apesar de serem artificialmente superiores, por serem titulares – mais uma aberração criada) e, muito importante, não pode deixar de se basear primordialmente na observação das aulas, visto que é na sala de aula que se pode ver indubitavelmente a qualidade do trabalho de um professor.


Uma coisa é certa, há que fazer um corte com o que de mal foi sendo construído durante estes últimos quatro anos, e um corte com o que (não) era feito anteriormente em termos de avaliação dos professores. Deste modo não podemos continuar, com uma guerra constante entre responsáveis do Ministério da Educação e professores, sob pena de fazermos ainda mais mal à nossa educação.

Pelo exposto, penso que se poderá criar um sistema de avaliação de desempenho simples mas exigente, inovador mas adequado, tecnicamente correcto e, por isso, aceite por todos.
(Continua)

domingo, 26 de julho de 2009

AVALIAÇÃO DE PROFESSORES – Carta aberta à Dra. Manuela Ferreira Leite (PARTE I)


Cara Dra. Manuela Ferreira Leite,

É ponto assente que, com a vitória na eleições europeias, foram criadas duas situações de extrema importância para o futuro próximo do nosso país, a saber, muita azia em muitos estômagos que não têm estômago para estes julgamentos eleitorais do povo, e alguma chama de esperança no aparecimento de alguém que nos livre desta sistemática moagem de ouvidos ad nauseam, com tiques propagandísticos e algo totalitários de que estamos, note-se, completamente e totalmente fartos.

No entanto, este vislumbre de alguma esperança não chega para gerar uma verdadeira dinâmica de vitória pró activa, em vez de esperar pelos erros dos adversários, por sinal muito abundantes e de qualidade muito acima da média. Torna-se necessário apresentar propostas para os grandes temas estruturantes que lideraram as audiências nos últimos quatro anos, nomeadamente, os relativos aos grandes ódios de estimação do actual governo, os professores e a sua avaliação, os juízes e os seus dois meses de férias, e depois todos os outros mandriões ineptos, altamente privilegiados e com salários chorudos que constituem o restante tecido da sociedade portuguesa, militares, polícias, notários, enfermeiros, médicos, sapateiros (sim, sim, também estes têm estado a prejudicar o nosso desenvolvimento económico), etc. etc.

Assim, não basta dizer que o actual governo tem vindo a tratar mal todas as classes profissionais de que se lembrou, pois que, muitas outras haverá certamente, igualmente cheias de infames mandriões e meliantes. A dois meses das eleições legislativas há que dizer a todos, frontal e claramente, quais as soluções que V. Exa. pretende implementar na eventualidade de vir a ser primeiro-ministro.

Pelo lado que me toca, sendo eu um professor de formação, mas que não se encontra a leccionar há cerca de oito anos por estar nos serviços centrais do Ministério da Educação, preocupa-me mais, por conhecimento de causa, a questão relacionada com a tão propalada e famigerada avaliação dos professores. V. Exa. deverá estar já a pensar, tal como qualquer cidadão português que se preze, que seja bom chefe de família e que tenha opinião (como se sabe todo o bom português tem uma), que eu me encontro do lado dos que estão contra o facto de os professores serem avaliados (em princípio todos os professores e respectivos familiares). Nada mais errado.
(continua)